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by ZÉ MIGUEL WISNIK

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1.
um sabiá, na palmeira, longe canta, canta pra ti ele bem sabe a dor da saudade e canta, canta pra ti sabe o que é felicidade sabe o que é dor de amor sabe o que é dor de amor coração, escuta, é tarde o sabiá cantador sabiá cantador na madrugada, desarvorada faço versos pra ti minha toada não vale nada se não vale pra ti só me escuta o arvoredo sob a luz do luar sob a luz do luar saberá guardar segredo até você voltar quando você voltar abre o coração para a música sou teu sabiá sou o encanto de te esperar vem pra me despertar pra me desesperar desesperar
2.
tenho dó das estrelas luzindo há tanto tempo há tanto tempo... tenho dó delas não haverá um cansaço das coisas, de todas as coisas, como das pernas ou de um braço? um cansaço de existir, de ser, só de ser, o ser triste brilhar ou sorrir... não haverá, enfim, para as coisas que são não a morte, mas sim uma outra espécie de fim, ou uma grande razão – qualquer coisa assim como um perdão?
3.
eu vi tantos mares tantas margens tantos céus tantas paisagens eu vi tanta escala e tanto cais eu fiz pelo avesso dos caminhos o meu lar em tantos ninhos eu quis os meus pés nos areais vi tantas manhãs tão claras tão vãs desejos sem fim a sorrir e a chorar pra mim e enfim depois de tanta aventura o meu peito me murmura que há tanta vida a vir mais
4.
se o homem ama por amar e a mulher ama por amor quem vai poder nos abraçar compreender nossa dor? somente a serpente e a canção da vida em que o homem é o verbo e a mulher é substantiva no olho de quem você se meça no espelho e no coração não há quem não se reconheça nem há quem não se estranhe somente a serpente é a irmã da irmã a serpente é a gente pai e filha e mãe
5.
EVA E ADÃO OU MARCHINHA DA FAMÍLIA Ana Tatit, Zé Tatit, Zé Miguel Wisnik adão e eva é a primeira invenção mas dentro dela já havia eva e adão parece nada, mas nessa inversão uma virada alterou a situação essa é a marchinha da família diferente muito contente de juntar gente com gente homem com homem, mulher com mulher e essa ciranda, seja lá o que deus quiser essa quadrilha seja o que a gente quiser PRESENTE Zé Miguel Wisnik eu quero simplesmente te dar um presebte a rosa dos tempos desabrocha desabrocha desabrocha novamente eu quero simplesmente a vida semente a mente que vibra vibra as fibras da cidade que vibra novamente eu quero simplesmente você nesse instante amante da vida da vida amante e o gozo do mundo gozo sem fundo gozamos durante
6.
pendurado de banda no vão da varanda do prédio a rodar não sei mais se é o mundo que cai aos meus pés ou de pernas pro ar embebedado de você tonto na beirada da tentação de cair e voar até me aninhar em você mal parado num muro sem prumo em que estudo onde me equilibrar entre o chão e o barraco de estrelas que cai no que foi nosso lar abandonado por você louco querendo mamar do segredo da vida e gritar até me agarrar em você arrastado por dentro ao meu próprio espetáculo em tal patamar pela mão da sereia que vai se tornando a sirene a soar convidado de luxo a deixar a ribalta de amar pela escada de incêndio a baxar até me assistir escapar você muito embora indo embora eu mesmo mentindo devo argumentar: sou a sobra do efeito cascata de vodka e desse luar
7.
errei com você errei errei errei errei errei errei não podia trocar o lugar que é só teu o cantar que é só teu pelo cantar de mais ninguém pela nossa amizade nossa cumplicidade o nosso bem é claro que há que se comemorar tantas formas de ser e de estar com outro alguém o lugar onde errei onde o erro se deu foi trocar o lugar onde ninguém pode estar senão você e eu se você perdoar depois que a dor passar esse engano infeliz que eu cometi assim canta o samba que eu fiz canta o samba pra ti canta o samba por mim sem cantar pra ninguém dentro do coração em silêncio e amém em feitio de oração e ainda uma vez me doendo na voz canta o samba pra ti canta o samba por mim canta o samba por nós
8.
já expliquei ao gerente já pedi muita calma devo dente por dente e pagarei com minha alma já fui ao presidente entornei mil cachaças devo cento por cento pago dando de graça já traí as amantes revirei muita bolsa já devi diamantes mas botei tudo na tua conta eu não tenho mais fundo nem fundos e vou com a lua pro fundo do poço mas a minha voz flutua acima do meu pescoço peço mais um domecq e preencho esse cheque com o verso de algum andrade: se tempo é de fato dinheiro quanto deve custar a ethernidade?
9.
é a hora em que o sino toca,
 mas aqui não há sinos;
 há somente buzinas,
 sirenes roucas, apitos 
aflitos, pungentes, trágicos,
 uivando escuro segredo;
 desta hora tenho medo. é a hora em que o pássaro volta, 
mas de há muito não há pássaros; 
só multidões compactas
 escorrendo exaustas
 como espesso óleo 
que impregna o lajedo; 
desta hora tenho medo. é a hora do descanso, 
mas o descanso vem tarde, 
o corpo não pede sono, 
depois de tanto rodar; 
pede paz - morte - mergulho 
no poço mais ermo e quedo; 
desta hora tenho medo. hora de delicadeza, 
gasalho, sombra, silêncio. 
haverá disso no mundo? é antes a hora dos corvos, 
bicando em mim, meu passado, 
meu futuro, meu degredo; 
desta hora, sim, tenho medo.
10.
sílabas do meu canto letras de fogo e ar gritos do nosso espanto vozes do som do mar fazei-nos acalanto fazei-nos descansar piscinas de silêncio hinos do sem lugar uivos na noite imensa sóis que inda vão vingar dai-nos alguma bênção dai-nos com que sonhar
11.
vê se encontra um tempo pra me encontrar sem contratempo por algum tempo o tempo dá voltas e curvas o tempo tem revoltas absurdas ele é e não é ao mesmo tempo avenida das flores e a ferida das dores e só então de sopetão entro e me adentro no tempo e no vento e abarco e embarco no barco de ísis e osíris sou como a flecha do arco do arco do arco-íris que despedaça as flores mais coloridas em mil fragmentos que passa e de graça distribui amores de cristais totais sexuais celestiais das feridas das queridas despedidas de quem sentiu todos os momentos
12.
sócrates brasileiro sampaio de souza vieira de oliveira deu um pique filosófico ao nosso futebol o sol caiu sobre a grama e se partiu em cacos de cristais as cores vestiram os nomes e fez-se a luta entre os homens até os apitos finais a história não esquece que a bola se negou mas chorou nosso gol e vai se lembrar para sempre da beleza que nada derrotou mas quem será que diz quem venceu no país em que o ouro se ganhou e perdeu? (derreteu) o futebol é a quadratura do circo é o biscoito fino que fabrico é o pão e o rito o gozo o grito o gol salve aquele que desempenhou e entre a anemia a esperança a loteria e o leite das crianças se jogou com destino e elegância dançarino pensador sócio da filosofia da cerveja e do suor ao tocar de calcanhar o nosso fraco a nossa dor viu um lance no vazio herói civilizador (o doutor)

about

INDIVISÍVEL capa azul brilhante e encarte fosco

credits

released June 20, 2011

Produzido por Alê Siqueira
Produção executiva _Sergia Percassi
Arranjos _Zé Miguel Wisnik, Arthur Nestrovski, Marcio Arantes, Marcelo Jeneci, Swami Jr, Sergio Reze, Alê Siqueira
Gravação e mixagem _Carlos (Cacá) Lima – estúdio YB (SP)
Gravações adicionais _Ricardo Moska e Maurício Gargel, estúdio Na Cena (SP); _estúdio Monoaural (RJ); _Paulo Lepetit, estúdio Outra Margem (SP)
Masterização _Carlos Freitas, estúdio Classic Master
Projeto gráfico _Elaine Ramos
Produção gráfica _Letícia Mendes

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